segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Sobre o Cuidar

Existem pessoas que tem um dom, que particularmente considero especial, nobre, que é o de cuidar de pessoas, se doar para ajudar o outro. Dentre essas pessoas estão profissionais, religiosos, voluntários, enfim, um emaranhado de pessoas de diferentes estilo e personalidade que tem em si impresso, a capacidade de cuidar. Essa capacidade de cuidar, em sua maioria, está intimamente ligada ao prazer que se tem no cuidado do outro, visto que esse prazer pode ser derivado de diversas experiências. Como da pessoa que têm necessidade de se sentir útil, da alegria de contribuir para a felicidade alheia, em se anular por não aceitar quem se é e tem no outro sua vida ou de servir o próximo de coração.
O homem está aqui no interesse das outras pessoas acima de tudo, daqueles de cujo sorriso e bem estar depende a nossa própria felicidade, bem como das incontáveis almas desconhecidas, cujo destino estamos ligados por um vínculo de solidariedade”. (EINSTEIN, A.)
Penso que a solidariedade tem a ver com o sentido na vida de todo ser humano, como Einstein, percebo que é possível encontrar a felicidade através desse tipo de vínculo. Mas, e quando se faz desse cuidado uma fonte de satisfação narcísica. Sendo que por um egoísmo íngreme, apropriado neste narcisismo, o indivíduo ajuda o outro numa busca de satisfação ao se colocar no lugar daquele que detém o poder, que está acima do sofrimento alheio ao ponto de poder ter ferramentas para aliviar sua dor. Ter seu prazer localizado não somente no cuidar, mas no cuidar enquanto esse o coloca como fonte de cuidado, logo fonte de poder. E ao se perceber como fonte de cuidado, se vê remetido como aquele que “têm”, e infelizmente se coloca num lugar de fonte de dependência. Esse indivíduo para servir o próximo, tem a necessidade de fazer com que esse o outro se torne dependente de seu “amor”, de sua “solidariedade”. Assim prefere dar o peixe a quem tem fome, ao invés de dar a vara e ensiná-lo a pescar. Claro, porque quem tem vara e sabe pescar, não precisa do peixe “doado” para se alimentar.
Então, como esse indivíduo “fonte de cuidado” terá prazer advindo da falta que o outro têm, fica assim mais satisfatório para esse ego narcisista manter o outro dependente de suas ações. Essa dependência acontece de forma tão sutil, colocando o outro de forma inconsciente numa dívida emocional impregnada no seu viver, que quem recebe a ajuda fica condicionado a retribuir ainda que emocionalmente ao que lhe fez o bem. E ainda mantém sua impotência para aquele que o serviu sustentando esse vínculo e se colocando no lugar daquele que tem que se sentir grato pela “presteza” recebida. Acredito que quando temos preocupação em servir a humanidade, pode-se fazer do servir o próximo uma ação que pode ser multiplicadora da solidariedade. Deixa-se o lugar de fonte de cuidado e assume-se a posição de facilitador, posso então apenar facilitar que o outro encontre a ajuda que precisa. Assim não se busca gerar a dependência, mas sim despertar no outro a percepção de que, todo ser humano tem algo a oferecer a alguém, que os papéis se movimentam, se hoje está sendo servido, amanhã pode-se servir e fazer da solidariedade uma “real” corrente do bem. Mas como é difícil abrir mão do gozo de ser o cuidador que detêm o poder do serviço e da satisfação alheia, para ser apenas um facilitador da ajuda ao próximo, e ter suas ações acontecendo sem confetes e aplausos.
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(Larissa Silva)

Um comentário:

Victor Resende disse...

Puxa!como o homem é egoista, consegue transformar até algo bom para o outro em benefício próprio.
Muito bom o texto !
em tempos onde estou pensando muito em "empatia" o texto me acrescentou muito.
bjo.
Victor