quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Uma casa para viver

"Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar". (Cora Coralina)

Ter uma casa para viver não é uma tarefa fácil. É comum que comecemos a construí-la desde a tenra infância e vamos a edificando-a pelo decorrer na vida. Digo sobre uma casa simbólica, um lugar no mundo que nos ofereça paz e segurança. Sabemos que a vida é repleta de circunstâncias que nos gera insegurança, mas sempre existe um lugar no mundo de nossa realidade afetiva que nos fornece o calor e o acolhimento de um lar amoroso. Isso está para além de um espaço físico, mas passeia por nossa alma através de nosso desenvolvimento psicológico que se dá nas vivências e relações que experimentamos ao viver a vida.

Uma casa nesse sentido pode remeter a vivências marcantes, pequenos momentos com grandes significados. Tem a ver com as pessoas que fazem parte do que nos faz forte. De repente um olhar de alguém que lhe compreende e demonstra com o silêncio um amor sincero. Uma mão que nos segura quando parece que tudo está caindo. Um almoço em família, passeio com amigos. Viagens a lugares especiais. Crenças religiosas e espirituais que traz sentido a vida. Ideais que nos dá paixão de viver. Princípios e valores intrínsecos a alma humana. Músicas que embalam momentos de alegria, tristeza e se tornam nossa trilha sonora pessoal. Filmes que fazem rir, pensar e chorar. A vocação que parece ser um dos motivos pelo qual existimos e podemos trazer contribuição à humanidade. São tantas coisas e pessoas que fazem parte de nossa casa, de nosso lugar de segurança no mundo (se isso é possível).

Mas existe momentos inexplicáveis na vida, que parece que perdemos nossa casa ou ficamos tão distantes dela como se não fosse possível reencontrá-la. Às vezes parece que “a casa cai” no sentido literal, parece que não foi construída em bases sólidas, ou então, aquela casa não é mais habitável, foi parte importante da vida, mas agora será necessário construir ou encontrar uma nova casa. Por onde começar? E será que se quer construir uma nova casa? Pois ao pensar que é possível perde-la em algum instante, tememos que a dor da perda possa ser maior que o acolhimento que ela nos dará.

E como encontrar os caminhos dessa nova casa? Que rota seguir? Não temos mapas, roteiros e nem direções... Só possuímos uma bússola que é nosso coração, que poderá nos indicar quais passos vamos dar nessa caminhada e quais tijolos vamos usar nessa construção.

Sentir-se um estranho no ninho, perceber que seu lar simbólico durante muito tempo já não te cabe mais. Não acolhe seus medos e nem aquieta sua alma.

Podemos encontrar nas palavras de Cora Coralina resposta a muito desses anseios. Palavras que trazem sentido a indagações da alma, que carregam uma vida que se faz feliz em ser vivida. Mas por vezes parecem ser belas palavras e riquezas distantes da realidade em que vivemos os seres humanos. Pois particularmente, sinto o amor de Deus a cada vez que respiro, o amor humano é que me falta e é tão limitado. E sei que esse amor é a essência para a construção de uma casa para se viver.

Eis o desafio, construir uma casa para se viver.

É difícil, mas não é impossível, temos em nosso coração sentimentos que nos aquece e em nossa razão inteligência que nos direciona. E na alma, sempre a fé, que nos faz acreditar e permanecer! Vamos trilhar essa estrada, a garimpar pessoas e momentos, que serão parte da coluna de nossa casa e que vão trazer luz a nossa vida.

(Larissa Silva)