sábado, 24 de dezembro de 2011

Feliz Natal!



"Quero falar de uma coisa adivinha onde ela anda deve estar dentro do peito ou caminha pelo ar. Pode estar aqui do lado bem mais perto que pensamos a folha da juventude é o nome certo desse amor. Já podaram seus momentos desviaram seu destino, seu sorriso de menino quantas vezes se escondeu, mas renova-se a esperança nova aurora, cada dia. E há que se cuidar do broto pra que a vida nos dê flor e fruto. Coração de estudante há que se cuidar da vida, há que se cuidar do mundo, tomar conta da amizade alegria e muito sonho espalhados no caminho, verdes planta e sentimento, folhas, coração, juventude e fé". (Milton Nascimento)

E a música vai inundando o coração e trazendo luz ao Natal.
É assim que vivo o Natal, com essa beleza que há na música, a afetividade das relações, o brilho da esperança, a alegria das crianças e a expectativa que há nos sonhos.
Vivo o Natal Celebrando uma data simbólica do nascimento de Jesus, Ele que veio trazer boas novas a humanidade, amor, luz, esperança, salvação... e enche meu coração de sonhos.
E desejo que nosso Natal seja assim com a celebração da vida de Jesus, cheio de boas-novas. Com um momento de ressignificar as vivencias do ano em que passou e inundar nosso coração de esperança pelo ano que há de vir.
Que possamos, como diz o poeta cuidar da vida, ter olhar de reverencia a essa vida que vivemos todos os dias com incerteza e coragem. Que possamos tomar conta do outro, dos amigos, da família, de todos que fazem parte de nossa história. Que cuidemos do broto, que nossas sementes lançadas ao caminho sejam carregadas de amor e verdade para que nosso amanhã seja repleto de flores e frutos. Que nossos sonhos se renovem e sejam espalhados no caminho com sentimento, coração, juventude e fé.
Que sejamos como estudantes da vida, que o Natal possa nos trazer aprendizado e deslumbramento com a beleza do sagrado que há em nossa humanidade e com a humanidade que há no sagrado.
É assim que desejo a você um Feliz Natal!!!

(Larissa Silva)

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Propósito

Nascer é a primeira chance. Não desperdiçar essa chance, o primeiro dever. (André Comte-Sponville)

Quando era criança, lembro que era maravilhoso acordar no sábado pela manhã, meus pais ouvindo música bem alta, provavelmente Legião Urbana, Milton Nascimento, Raul Seixas, Beatles... enfim sempre era do meu gosto a trilha sonora escolhida por eles. Acordava feliz e via aquele Sol lindo raiando na janela do quarto e sabia que teria todo o dia pela frente para aproveitar, brincar e estar com os amigos. E podíamos fazer tantas coisas juntos, andar de bicicleta, jogar vôlei, andar de patins ou simplesmente conversar e sentir a brisa do vento tocar o rosto, isso era tão bom e nessa época o dia parecia ser tão mais longo. Esses momentos realmente traziam significado a minha infância, não era necessário entender ou escolher, mas sim deixar fluir, acontecer...

E hoje o que é não desperdiçar essa chance de viver? O que poderá atribuir sentido a essa vida tão cheia de surpresas que é nossa humanidade? É deixar fluir, acontecer ou precisamos encontrar um propósito maior para trazer significado ao nosso nascer, existir?

Tenho medo das certezas e convicções que as pessoas demonstram ter, tantos absurdos, barbáries, desafetos e sofrimentos já foram resultado de uma extrema confiança numa idéia ou pensamento.
Mas ao mesmo tempo sinto dentro de mim uma busca pelo meu propósito de viver. Será que ele existe? E acho difícil descobrir algo que é tão meu, tão pessoal. Uma pergunta que só pode ser respondida por mim.

“Quando nossa vida subitamente se abre a indagação, somos lançados de volta a nós mesmos sem apoio de nenhuma intervenção externa”. (Ulrich Baer)

É isso, uma indagação interna, que não pode se apoiar no externo. Um momento que não posso simplesmente ouvir a mesma música que meus pais ouvem, mas preciso descobrir qual a trilha sonora da minha vida. Qual a grande poesia que a vida preparou para mim ou que vou preparar para a vida?
Penso que a pessoa que encontra a sua resposta, descobre sua vocação, o motivo para viver, encontra a plenitude na vida. Não necessariamente que isso reflita a alegria contínua, mas além de desfrutar da felicidade, também terá condições de suportar e lidar com os momentos de infelicidade. Como diz Nietzsche: “Quem tem um porque para viver pode suportar qualquer como”.

Reflexões para a vida.

(Larissa Silva)

domingo, 4 de setembro de 2011

Encontro de Almas


"Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou não toca". (Clarice Lispector)

É como se naquele momento a vida fizesse sentido e brota um desejo ardente de eternizar o instante, assim acontece quando alguém entra em contato, toca, sente, afeta, enxerga e se dá o encontro de almas.
Percebo que na vida existem pessoas com quem consigo me conectar de forma especial, uma conversa, um sorriso, um tempo juntos e pronto, parece que nossas almas se revelaram uma a outra. Foge da racionalização, simplesmente existe a comunhão.
É uma presença que alimenta, inspira, provoca e contagia, mas que por vezes distancia. Essa alma que toca a minha a faz naturalmente, mas não pode se manter presente. Alguém especial que traz significado ao comum, mas que não torna comum a sua presença. É uma relação que existe com distancias e que carrega um íntimo intrínseco. Momentos de proximidade em atividades cotidianas com afetividade limitada. Sentimentos que ficam guardados, silêncios questionadores, afetos subliminares e o não dito que se faz presente e instiga o desejo de ter, de ser e deixar acontecer.
Anseio por uma relação com convivência e profundidade, mas sou tomada pelo medo de sua realização. Possibilidade cheia de complexidade pelas amarras da realidade. Paixão que é bonita apenas na fantasia, amor que acontece apenas no sonho, beleza que se dá no que é platônico.

(Larissa Silva)

domingo, 24 de abril de 2011

São Paulo, Terra de Possibilidades

“Vida, vida que amor brincadeira, eles amaram de qualquer maneira, qualquer maneira de amor vale a pena, qualquer maneira de amor vale amar, qualquer maneira de amor vale aquela, qualquer maneira de amor valerá...” (Milton Nascimento/Caetano Veloso)


Nasci e Vivo numa Terra de Possibilidades. Essa cidade por vezes tão caótica, estressada e turbulenta, mas que também está como um grande colo que acolhe a muitos: São Paulo.

Tenho uma relação de amor e ódio com essa cidade. Sim odeio o trânsito, poluição, correria, individualismo, céu cinza, lugares lotados, filas em bancos, mercados e hospitais, consumismo, competitividade, indiferença e vazio em muitas relações cotidianas.

Mas SP tem seu lado luz, que vejo brilhar com intensidade em minha vida. Possui uma luz calorosa que me aquece e ilumina. Esse é meu lugar no mundo. Por vezes, penso em buscar qualidade de vida fora dessa cidade, mas confesso que tenho medo de abrir mão do que conquistei aqui e das muitas possibilidades que tenho a conquistar.

Essa cidade é onde construí o que sou e onde vejo possibilidades para continuar me desenvolvendo. Um lugar que encontrei possibilidades de vida. Aqui está minha família querida, onde sempre tenho amor e cumplicidade. Estão meus queridos amigos, pessoas preciosas, que sinto honrada de fazerem parte de minha história, amigos que sempre são casas afetivas.

Lugar de diversidade cultural, paixão que traz sentido a alma. Inúmeras possibilidades culturais, música, arte, teatro, exposições, comida, cinema, o que desejar da cultura pode ser encontrado. Sinto-me presenteada pela vida, quando contemplo essa beleza da arte. A alma sorri com as vivencias culturais que esse lugar me proporciona. Há pouco tempo pude ter uma experiência que retrata bem isso, fui na “Festa do Boi”, festa típica maranhense que acontece em SP com autenticidade e alegria, um privilégio experimentar o melhor da cultura brasileira.

Uma cidade que a qualquer momento que você sair para se divertir, tem a oportunidade de conhecer pessoas legais. Por vezes, saí para fazer algum programa cultural sozinha e conheci pessoas especiais. Basta estar aberto para as relações humanas, permitir-se ir além do óbvio.

Muitas das relações que fazem parte do que me faz forte estão aqui. Pessoas que admiro, que me inspiram, que amo e me amam, relações que dão sentido a existência, que iluminam e preenchem os espaços escuros e vazios do coração. Em meio o caos dessa selva de pedra, encontro possibilidades reais de experimentar o amor que existe em SP.

Em todo caminho que escolhemos viver, teremos que lidar com a luz e a sombra que esse proporcionará. São Paulo para mim é um lugar onde a luz supera a sombra. A presença supera a indiferença. O amor experimentado em diversas formas de beleza supera a tristeza de suas incertezas.

São Paulo, terra que amo, vivo e acredito!

Larissa Silva

domingo, 27 de março de 2011

Encontros e Desencontros


Era uma noite agradável. Nina caminhava pela rua em direção a sua casa. A brisa tocava-lhe o rosto, o cabelo voava ao vento e a lua estava linda. Ela queria mais da vida, então resolveu ir a um show de música popular brasileira que teria naquela noite. Como decidiu em cima da hora, não deu tempo para convidar alguém para ir junto. Ela foi sozinha, na expectativa que a vida lhe prepararia coisas boas. Chegou ao espaço cultural e puxou conversa com um rapaz, ele era um homem mais maduro, tinha mais idade que ela, uma garota jovem. Nina tinha ganhado um par de ingressos para aquele show e só usaria um. Ela ofereceu para ele, que chegou à bilheteria para comprar o seu ingresso.

Nina: - Você vai comprar ingressos para o show de hoje?

Marco: - Irei comprar sim. Por quê?

Nina: - Ganhei um par de ingressos e só vou utilizar um, pois estou sozinha. Você está sozinho?

Marco: - Sim, estou.

Nina: - Pronto, eu te dou um dos meus ingressos e você não precisa comprar.

Marco: - Eu compro de você então.

Nina: - De jeito nenhum, ganhei e te dou também, está aqui, pronto. Vamos indo para o teatro?

Marco: - Vamos sim. Está cedo ainda, podemos passar para tomar algo?

Nina: - Sim, claro.

Ele comprou bebida para os dois e se sentaram para beber e prosear um pouco. Ele perguntou o nome dela e ela falou, ele disse que era muito bonito como ela.

Marco: - Você trabalha com música?

Nina: - Eu sou apaixonada por música, mas não trabalho com música, por quê?

Marco: - Ah, quando você começou conversar comigo, tinha certeza que você trabalhava com música. Você parece ter tudo a ver com arte, cultura, música...

Nina: - Puxa, eu adoro tudo isso e curto bastante, mas nunca trabalhei, não. Que legal você pensar isso de mim.

Marco: - Nina, acho que tem tudo a ver com você. Durante muito tempo de minha vida me dediquei ao teatro. E vejo isso em você, um brilho de vida para a arte. Você deveria fazer teatro ou algo relacionado, acho que tem tudo a ver. Você tem essa alegria que a arte nos proporciona.

Ela se sentiu feliz, surpresa e instigada a querer saber mais daquele desconhecido que parecia conhecê-la tão bem. Ele lhe deu palavras e gestos. Era perceptível o brilho no olhar de Nina e sua alegria em ver a forma que Marco falava dela. As palavras dele afetavam-na de forma especial.

Nina: - É mesmo, já me falaram coisas do tipo. Mas você está sendo assertivo, vou pensar a respeito.

E assim continuaram conversando, ela sentiu como se ele enxergasse seu interior, compreendesse seus desejos e se encantasse com sua presença. Houve um fluir na conversa, falaram sobre Chico Buarque, Milton Nascimento, Poesia, Teatro, Vida... Enfim tinham assunto em comum como se já se conhecessem há tempos e estivessem esperando essa oportunidade para colocar as palavras em dia. O show já iria começar...

Marco: - Nina, vamos ao show?

Nina: - Claro, vamos sim. Estou com bastante expectativa.

Adentraram ao teatro, ela se acomodou, ele, cavalheiro, esperou-a sentar e se acomodou em seguida. O show começou, músicas lindas e uma atmosfera poética pairavam no ar. Eles vivenciavam juntos a beleza do espetáculo, se emocionando e curtindo aquelas músicas. Entre uma e outra, comentavam algo a respeito das músicas, dos artistas. Foi um momento muito agradável, ela se sentia bem acompanhada e feliz. Foi uma daquelas situações da vida na qual Nina se sentiu preenchida, completa, satisfeita com o que lhe ocorria. Ele encostava seu braço no dela e ela ficava sem saber como agir. Ela sentia vontade de encurtar a distância, mas ao mesmo tempo não sabia o que fazer.

Naquele momento era como se o mundo parasse, ela sentia que era especial o homem que estava ao seu lado e ainda tinha uma maravilhosa trilha sonora preenchendo o lugar. Era um cenário que permeava romance, ela sentia como se estivesse vivenciando a cena de um belo filme. Não havia um lugar melhor para ela. Era exatamente ali que Nina queria estar, sentia-se no momento certo, com a pessoa certa, ouvindo belas músicas que pareciam vir iluminar o coração dos dois desconhecidos que se conheciam.

Ao final do espetáculo, saíram juntos e já fora do teatro, era o momento da despedida. Estavam juntos, mas ao mesmo tempo nem se conheciam. Era uma situação que os deixavam constrangidos e sem saber qual o próximo passo. Eles se olharam e se despediram.

Marco: - Nina, foi um prazer te conhecer, obrigado pela ótima companhia.

Nina: - O prazer foi meu, eu que agradeço.

Marco: - Até mais...

Nina: - Até...

Marco e Nina se despediram com um beijo no rosto e cada um seguiu seu rumo. Um encontro e um desencontro na mesma noite. Mas foi um tempo juntos suficiente para dar um novo sentido para a noite de Nina e aquecer seu coração de afeto pela companhia de Marco. E num teatro em São Paulo, o amor venceu o tédio. Um pequeno momento carregado de grande carinho. A presença de Marco despertou brilho no olhar de Nina e naquela noite ela voltou mais feliz para sua casa, surpreendida com a beleza da vida e a alegria dos encontros.

Nina nunca mais o encontrou, mas desde aquele dia ela tem desejado trabalhar com cultura e pesquisado para estudar teatro. Naquela noite, parece que Marco revelou a Nina uma parte de si mesma que ela ainda não conhecia, proporcionou que entrasse em contato com coisas belas que estavam guardadas em seu coração prontas a serem descobertas.

Amor que se revela em situações inusitadas, mas especiais. Basta-nos a sensibilidade para percebê-lo no ar e experimentar de sua poesia.

Larissa Silva

sábado, 12 de março de 2011

Chorar com os que Choram

A tragédia no Japão, tsunami, terremoto, explosão nuclear, desastre ecológico... tristeza. Cidades sendo destruídas, pessoas morrendo, medo, desespero, tomando conta de um país. Qual o tamanho do sofrimento dessas pessoas? Não posso mensurar nem de longe, só posso é fazer o que a bíblia diz: “chorar com os que choram” (Rm 12:15). O que é possível é despertar a compaixão com coragem, se compadecer e indignar com o sofrimento desse povo. Agora, me dói no mais profundo do coração ver os religiosos dizendo que é a mão de Deus pesando, que Deus está movendo as águas. Pelo amor de Deus, que Deus é esse que esses religiosos conhecem???

Jesus veio ao mundo para nos revelar um Deus de amor, um Espírito que intercede pelo homem com gemidos inexprimíveis. Jesus se manifestou como um homem humano, vulnerável, por amar, Ele chorou pelo sofrimento alheio:

“Tendo, pois, Maria chegado onde Jesus estava, e vendo-o, lançou-se aos seus pés, dizendo-lhe: Senhor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. Jesus pois, quando a viu chorar, e também chorando os judeus que com ela vinham, moveu-se muito em espírito, e perturbou-se. E disse: Onde o pusestes? Disseram-lhe: Senhor, vem, e vê. Jesus chorou. Disseram, pois, os judeus: Vede como o amava”. (Jo 11:32-36)

Nossa, os religiosos nunca leram que JESUS CHOROU?

O sofrimento faz parte da humanidade, todos nós estamos sujeitos a dificuldades, aflições, desastres, Deus se move de compaixão por nós que somos seus filhos e amados por Ele. Deus não move as águas para destruir ninguém, Deus chora com os que choram. Jesus é a demonstração viva do amor perfeito de Deus pelo ser humano.

Essas pessoas que só conhecem um deus tirano, estão perdendo a oportunidade de experimentar da graça de Deus e estão testemunhando o quanto a religião pode ser corruptível e desumanizadora.

Meu coração se aflige, angústia toma o peito, ao ver pessoas comentarem a tragédia do Japão com ar de superioridade, como se aquele povo merecesse a ira de Deus. Nossa, se Deus quisesse nesse momento manifestar a justiça dele no mundo, TODA a humanidade estaria fadada ao desastre, pois todos nós somos pecadores cheios de falhas e imperfeições. Glória a Deus por Sua Graça e Amor que independem do nosso merecimento.

Quem se compadece age em prol do sofrimento alheio, se move em favor dos que perecem, sofre e luta junto. Orar e fazer silêncio??? As pessoas precisam de amor, dedicação, acolhimento, compaixão, recurso material, financeiro, casa, comida, remédio... enfim AJUDA REAL e PRÁTICA. Nesse momento sermão não serve para nada, só o espelho que precisa dos sermões hipócritas desses religiosos.

Só de pensar, que poderia ser meus pais, irmãos, família, amigos, pessoas queridas nesse contexto, um nó vem à garganta, sinceramente, não sei como sobreviveria se passasse por uma experiência tão dolorosa como essas. E sei que posso vivenciar tal tristeza a qualquer momento de minha vida. Todos nós humanos enquanto vivos estamos vulneráveis a tudo no mundo. Cuidado, com o que falamos e pensamos do outro, do nosso próximo. Jesus diz: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. (Lc 10: 27)

Que nós possamos ao menos tentar nos aproximar das palavras de Jesus. Que Deus esteja mais em nossas ações do que em nossas palavras. Que possamos nos sensibilizar e nos doar pelos que perecem. No Japão, no Rio de Janeiro, São Paulo, Alagoas, Haiti, seja onde houver o sofrimento humano, que haja o amor humano.

Não me conte sobre o tipo de religião em que acredita, me conte sobre o tipo de pessoa que você é. Sobre o que te faz chorar e o que te faz sorrir, isso sim me interessa!

Larissa Silva

domingo, 23 de janeiro de 2011

Há que endurecer...

Um dia um aluno me perguntou: “Como é que o senhor planejou a sua vida para que chegasse aonde chegou?” Ele me admirava. Mas minha resposta pôs a perder suas expectativas. Eu disse: “Eu estou onde estou porque todos os meus planos deram errado”. (Rubem Alves)

Essa vida que é roda viva nos ensina a fragilidade dos planos e o perigo das expectativas. As palavras de Rubem Alves soam como uma leitura de minha alma. Recentemente, vivenciei momentos difíceis. De repente fui surpreendida com más notícias, o dia ficou cinza e uma nuvem tempestuosa se formou sobre mim. Sonhos que havia desenhado durante algum tempo tiveram que ser adiados, enfim meus planos deram errado.

A frustração tomou boa parte de mim, fiquei sem chão, sem saber para onde olhar. Sem entender o motivo de estar nesse lugar de angústia, sem querer ver algum propósito nisso. Não queria pensar que era necessário viver algo tão dolorido para amadurecer.

Mas após o susto, tentei pensar em oportunidades de crescimento com tal situação. Comecei a desejar a beleza que há na vida. Pensar que viver está muito além de uma fase momentânea de dificuldade e decepção. E que essas são ferramentas que podemos usar para sermos lapidados e aprofundarmos nossas raízes no que é verdadeiro e digno em nossa existência. As surpresas que nos chegam, boas ou ruins, nos mostram o quanto não temos controle algum das circunstâncias que nos sucedem, que a roda vida é todo dia. Que posso escolher pela arte de viver, me deixar amadurecer com o que o mundo me oferece e assim fazer do cotidiano uma grande obra de arte. Não esperar por nada pronto, criar o belo que quero enxergar, permitir que a tristeza produza força para acreditar.

Lutam melhor os que têm sonhos belos. Somente aqueles que contemplam a beleza são capazes de endurecer “sem nunca perder a ternura”. (Rubem Alves, parafraseando Che Guevara)

Sinto assim, houve um momento que me senti endurecendo, formando uma casca para as pessoas e situações. Uma geleira se formando em torno de meu coração. Tive medo do que estava me tornando. De que esse fosse um limite que não estava preparada para chegar. Mas em outros momentos achava que seria produtivo, que essa vivência estava me conduzindo a ser uma pessoa mais independente e menos vulnerável ao que é externo. Mas a despeito de tudo, escolhi pela beleza dos sonhos, a arte da vida. Deixei o amor degelar meu coração e abrir fronteiras para novas vivencias. Então percebi o quanto é possível “endurecer sem perder a ternura”, quando acreditamos no verão que está por vir, vemos que as chuvas tempestivas se tornam apenas parte da estação e não a única forma de visão. Esse endurecer nos faz mais fortes e maduros para novos desafios e mais sensíveis para o encanto que está no cotidiano.

Após esse frio e nebuloso inverno, começo a sentir o calor do verão e do Sol que me aquece. Vejo que aprendi com as perdas e decepções e quanto me serviram como uma ponte para conquistas importantes. Posso enxergar com clareza, que hoje estou realizando um sonho justamente porque alguns planos deram errado. E repensando os últimos anos de minha vida, posso constatar que sou uma pessoa melhor e mais feliz porque muito dos meus planos deram errado. Vou aprendendo que a vulnerabilidade do meu coração e a imperfeição de minhas ações me faz ser humana. Um amigo perguntou o que queria dizer na minha experiência “tornar-se pessoa?”. É isso. Tornar-me pessoa tem a ver com esse deixar afetar-se pela vida. Reconhecer o que se é e se permitir ser o que realmente se é. E isso abrange essa perspectiva de sofrer, lutar, sonhar, frustrar, desejar, amar, chorar, alegrar, decepcionar, errar, acertar e a despeito de tudo, acreditar. Acreditar em Deus, na vida, nas pessoas, nos sonhos e, claro, em si mesmo. Tenho aprendido com as circunstâncias felizes e adversas que mergulhar na vida a despeito das conseqüências tem contribuído para esse “tornar-se pessoa”. E assim torno-me mais humana, amada e amante.

Larissa Siva