segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Feliz Natal

A arte é também apenas uma maneira de viver. Pois arte é infância. Arte significa não saber que o mundo já é, e fazer um. Não destruir nada que se encontra, mas simplesmente não achar nada pronto. Nada mais que possibilidades. Nada mais que desejos. E, de repente, ser realização, ser verão, ter sol. Sem que se fale disso, involuntariamente. Nunca ter terminado. Nunca ter o sétimo dia. Nunca ver que tudo é bom. Insatisfação é juventude. (Rainer Maria Rilke)

Natal. Época de nostalgia da infância. Momento em que a beleza da vida exala no ar. Sinto assim, como se os dias ficassem mais belos e despertasse uma fé no que está por vir. A saudade da infância está nessa inocência que brota em nosso interior. Esse olhar da criança que acredita que tudo é possível. Que faz lista dos seus desejos na convicção de que serão realizados. No deslumbramento pelo novo. Na alegria de viver a cada instante. Na realização que se tem no brincar com a vida. E é assim que o Natal está chegando para mim. Essa data me remete ao nascimento de Jesus, que vem a Terra com Boas-Novas. E penso que só tendo um coração de criança para permitirmos que as boas-novas de Deus e da vida afetem nossa alma e iluminem nosso coração.

Que o Natal possa tocar cada um de nós despertando novas possibilidades para a vida, a beleza da esperança, independente das dificuldades e adversidades. Que possamos ter a inocência de criança para acreditarmos que o melhor está por vir. Que resgatemos nossa capacidade de sonhar, de nos surpreender. Que nossos olhos brilhem de alegria. Que estejamos sensíveis ao outro. Que desperte em nós a arte da infância, a arte como modo de viver, como o poeta diz “Não achar nada pronto. Nada mais que possibilidades. Nada mais que desejos”. Que a arte inunde nossa alma e desperte nosso olhar para juventude da vida.

É assim que desejo a você um Feliz Natal!

Larissa Silva

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A essência além dos fatos

"É preciso esquecer os fatos para que as essências apareçam". (Rubem Alves)

Dores ecoam dentro de mim, tento permanecer com a certeza de que um momento de beleza está vindo a nascer. E que essa dor é como a de uma mulher prestes a dar a luz, dores que antecedem a vida.

Brota nos olhos lágrimas, um choro que parece lavar a alma, numa tentativa de se livrar dessa estranha sensação que no interior faz habitação. Músicas afetam meu ser, invadem o peito e nelas busco iluminar esse escuro do coração.

Mas como um barco a deriva, vou fluindo sem saber em qual destino me entregar, pois derepente nas mãos tudo parece escorregar. Como a água que não é possível segurar e as ondas do mar que não se pode controlar.

Avisto pontos de luz, não clareiam todo o ambiente, mas apontam sinais de uma terra iluminada. Os pontos de luz estão resplandecendo das palavras do poeta, a poesia abriu possibilidade de novos caminhos, tocou o coração e abriu janelas da alma para sentir o cheiro de águas sagradas. A poesia acolheu a angústia e confortou o coração. A beleza das palavras despertou os olhos para uma vida que está além dos fatos, que está na essência do ser, na arte de viver, ao alcance do sonhador.

Assim, um bálsamo está inundando meu ser, como uma brisa leve que toca o rosto e refresca o corpo. Está fluindo calmamente uma vontade de acreditar no verão que virá. Na essência para além dos fatos. Decido acreditar, que certamente as dores que me tomaram, anunciam o parto de um lindo fruto que está para nascer. Sofro a dor da incerteza, para que possa ver brotar a vida com beleza.

Nessa fé quero viver e fazer questão de celebrar a experiência de ser.

(Larissa Silva)

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Uma casa para viver

"Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar". (Cora Coralina)

Ter uma casa para viver não é uma tarefa fácil. É comum que comecemos a construí-la desde a tenra infância e vamos a edificando-a pelo decorrer na vida. Digo sobre uma casa simbólica, um lugar no mundo que nos ofereça paz e segurança. Sabemos que a vida é repleta de circunstâncias que nos gera insegurança, mas sempre existe um lugar no mundo de nossa realidade afetiva que nos fornece o calor e o acolhimento de um lar amoroso. Isso está para além de um espaço físico, mas passeia por nossa alma através de nosso desenvolvimento psicológico que se dá nas vivências e relações que experimentamos ao viver a vida.

Uma casa nesse sentido pode remeter a vivências marcantes, pequenos momentos com grandes significados. Tem a ver com as pessoas que fazem parte do que nos faz forte. De repente um olhar de alguém que lhe compreende e demonstra com o silêncio um amor sincero. Uma mão que nos segura quando parece que tudo está caindo. Um almoço em família, passeio com amigos. Viagens a lugares especiais. Crenças religiosas e espirituais que traz sentido a vida. Ideais que nos dá paixão de viver. Princípios e valores intrínsecos a alma humana. Músicas que embalam momentos de alegria, tristeza e se tornam nossa trilha sonora pessoal. Filmes que fazem rir, pensar e chorar. A vocação que parece ser um dos motivos pelo qual existimos e podemos trazer contribuição à humanidade. São tantas coisas e pessoas que fazem parte de nossa casa, de nosso lugar de segurança no mundo (se isso é possível).

Mas existe momentos inexplicáveis na vida, que parece que perdemos nossa casa ou ficamos tão distantes dela como se não fosse possível reencontrá-la. Às vezes parece que “a casa cai” no sentido literal, parece que não foi construída em bases sólidas, ou então, aquela casa não é mais habitável, foi parte importante da vida, mas agora será necessário construir ou encontrar uma nova casa. Por onde começar? E será que se quer construir uma nova casa? Pois ao pensar que é possível perde-la em algum instante, tememos que a dor da perda possa ser maior que o acolhimento que ela nos dará.

E como encontrar os caminhos dessa nova casa? Que rota seguir? Não temos mapas, roteiros e nem direções... Só possuímos uma bússola que é nosso coração, que poderá nos indicar quais passos vamos dar nessa caminhada e quais tijolos vamos usar nessa construção.

Sentir-se um estranho no ninho, perceber que seu lar simbólico durante muito tempo já não te cabe mais. Não acolhe seus medos e nem aquieta sua alma.

Podemos encontrar nas palavras de Cora Coralina resposta a muito desses anseios. Palavras que trazem sentido a indagações da alma, que carregam uma vida que se faz feliz em ser vivida. Mas por vezes parecem ser belas palavras e riquezas distantes da realidade em que vivemos os seres humanos. Pois particularmente, sinto o amor de Deus a cada vez que respiro, o amor humano é que me falta e é tão limitado. E sei que esse amor é a essência para a construção de uma casa para se viver.

Eis o desafio, construir uma casa para se viver.

É difícil, mas não é impossível, temos em nosso coração sentimentos que nos aquece e em nossa razão inteligência que nos direciona. E na alma, sempre a fé, que nos faz acreditar e permanecer! Vamos trilhar essa estrada, a garimpar pessoas e momentos, que serão parte da coluna de nossa casa e que vão trazer luz a nossa vida.

(Larissa Silva)

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Encantar Almas

“Um fogo queimou dentro de mim, que não tem mais jeito de se apagar, nem mesmo com toda água do mar. Preciso aprender os mistérios do fogo prá te incendiar” (Maurício Maestro)

É como sinto no meu interior, um fogo que arde e não tem mais jeito de se apagar, preciso aprender os mistérios de minha vida para poder incendiar.Inquieta, percebo um ardor na alma que anseia a vida, aspira expressões de beleza, que se pode encontrar nos pequenos detalhes de nosso cotidiano.
Tenho encontrado encanto nas relações humanas, essa capacidade de se sentir parte de um universo comum através da identificação com as pessoas. Encontro no outro identificação, me reconheço nas diferenças e me identifico na aceitação e compartilhamento com aquele que é distante de minha realidade, mas ao mesmo tempo é parte de minha humanidade. Somos parecidos por sermos diferentes, nos reconhecemos em nossas complexidades. A vida acontece nessa interação da vida e troca de experiências singulares a cada um. Discursos que se cruzam, beleza que emana das palavras, olhares que se entendem mesmo sem se conhecer, canções que surgem para marcar na memória esses momentos únicos, belos e verdadeiros.
Nessa capacidade de me relacionar com o outro, construo minha história e amadureço minha identidade. Sinto desejo de ser parte, estar junto, construir vivências com esses outros seres que fazem parte de mim. É como um fogo que se acendeu e não tem como apagar, mas que precisa encontrar outros iguais para incendiar. Sim, incendiar de amor, propor amizade, alegria, vida, conversa, riso, canção, discussão, silêncio, encontro com o humano que preciso para experimentar a vida com inteireza. Quando falo de encontrar iguais, não tenho a pretensão de me relacionar com pessoas que sejam cópias de quem sou, até porque isso é totalmente ilusório, mas sim, estou expressando o desejo de enxergar o outro como igual a mim independente de quem ele seja, mas de nos reconhecermos comuns pelo fato de sermos seres humanos e assim pertencentes ao mesmo povo, a despeito da cultura, raça ou tribo.
Ao partilhar da vida e entregar um pouco do que sou e do que tenho, sinto-me alimentada e impulsionada a buscar mais experiências nas relações humanas. Desfrutar de encontros nos conduz a um universo mágico de descobertas, aprendizados, afetividade, que são como bálsamo no profundo da alma.
Quero aprender o encanto dos momentos simples, inusitados e inesperados, a legitimar as pessoas quando são presentes. Que não precise descobrir o valor do outro na dor da saudade, mas que tenha disposição de amar enquanto é possível, enquanto a relação é real. Quero me desfazer do desejo ilusório de relações perfeitas e encontrar graça no que é autêntico e próprio ao ser humano.
Um amigo comentou, lembro-me de quando conversávamos sobre o futuro, como o tempo passa e o futuro chegou. Aquele futuro chegou, mas enquanto estamos vivos temos sempre a oportunidade de escrevermos um novo futuro. Não vamos nos perder de nossas verdades, de nossos amores, de nossos amigos e nossos valores. Sejamos entregue a nossa essência e possamos fazer desse presente feliz, semearmos a vida em verdade em comunhão com quem nos é importante e assim plantarmos o futuro regado de presenças afetivas e alianças verdadeiras. Que eu possa despertar no outro o seu melhor, suportar o seu pior, e nessa entrega me inspirar para também melhorar.
Quero um dia compreender e viver a riqueza dessas palavras de Madre Tereza de Calcutá: "Não devemos permitir que alguém saia de nossa presença sem sentir-se melhor e mais feliz". Me lanço no desafio de viver a vida em busca de enxergar nas pessoas fraternidade, que possamos nos perceber como irmãos e filhos do grande Pai- Deus.
Quero ser uma encantadora de almas e ser afetada pelo encanto das pessoas.
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Larissa Silva

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Angústia, aprendizado para vida

“Aprender a angustiar-se é uma aventura que todos tem de experimentar” (Kierkegaard)

Percebo uma sensação que por diversos momentos paira no interior da vida de todo ser humano, a angústia. Esse nó na garganta, essa apreensão sem saber o porquê e como, que derepente invade o íntimo do nosso ser sem se fazer entender. Numa experiência angustiada, tomei um artigo de filosofia para ler e me deparei com as palavras de Kierkegaard “Aprender a angustiar-se é uma aventura que todos têm de experimentar”. Que surpresa ler sobre um sentimento atual. Reflito sobre esse aprendizado, e compreendo que na existência essa vivência tem significados profundos.
Ao nos enxergamos, identificando quem somos, o que sentimos e o que possuímos, abrimos uma porta para a angústia em nossa vida. Por vezes ela é fruto da autoconsciência e da liberdade humana. Isso aponta para os questionamentos “Quem eu sou?” e “Para onde eu vou?”.
Pare e pense em como responder tais questões, se sabe exatamente quem é e onde quer chegar, nessa responsabilidade de assumir sua identidade e sustentar suas escolhas. No vazio que advém dessa independência de viver a própria individualidade.
Nesse contexto percebo o quanto nossa independência precisa ter limites. É importante pensar que nossa individualidade é limitada, sim, pela necessidade que temos de reconhecer que somos parte de um universo muito mais amplo e profundo.
Penso que a vida humana é constituída através de vários órgãos de um só corpo, ou seja, cada um de nós é apenas uma parte desse grande corpo que é o universo. Se olharmos ao nosso redor e prestarmos atenção em tudo que nos cerca, podemos nos perguntar se realmente temos condições de sermos independentes em nossa trajetória de vida.
Ao olhar para nosso interior é possível perceber o quanto somos carentes e necessitados do que é externo a nós, do que parece que não nos pertence, mas que ao mesmo tempo tem tanto do que somos.
Segundo Dostoievski, “Todo homem tem dentro de si um vazio do tamanho de Deus”. Essas palavras trazem um impacto profundo dentro de mim e fazem parte de minha cosmovisão.
Sim, creio que temos um vazio interior capaz de provocar essa angustia humana, que está totalmente ligado a nossa necessidade existencial de nos relacionar. E uma relação primordial que se faz necessário é a relação com um Ser Superior e Divino, é a grande necessidade que temos de Deus em nossa vida, pois só Ele para suprir esse vazio que está em nós. O âmago do nosso ser deseja essa relação com Deus.
Quando temos a compreensão dessa necessidade, podemos perceber que uma relação verdadeira com Deus está ligada também, a uma relação de amor com tudo aquilo que é criação dEle. Sendo assim, podemos entender a necessidade de nos relacionar com os outros seres humanos e com a natureza (vegetais, animais, água, terra). Amar a Deus está intimamente ligado a amar a tudo que vêem dEle.
"Todas as coisas são interligadas como o sangue que une uma família. O queacontecer a Terra, acontecerá com seus filhos. O homem não pode tecer a trama da vida; ele é meramente um dos fios. Seja o que for que ele faça à trama, estará fazendo consigo mesmo". (Chefe Indígena Seattle/EUA)
Sabiamente falou esse índio, somos parte de tudo que há na Terra, nossas vidas estão totalmente conectadas e dependentes umas das outras. Se desprezar qualquer ser que vive, estarei desprezando uma parte de mim que existe fora de mim. É urgente reconhecermos essa realidade para darmos um sentido a nossa trajetória de vida apoiada na verdade.
Precisamos entender as palavras de Jesus: “Para que sejam um, como nós o somos, Eu neles, e Tu em mim, afim de que sejam aperfeiçoados em unidade” (Jo 17:22-23)
Jesus sabia que era um com Deus, e que nós poderíamos fazer parte dessa unidade, uns com os outros e assim com Ele. Que através da unidade seremos aperfeiçoados.
Sendo assim, espero que nossa angústia gere a humildade de reconhecer nossa pequenez, carência e dependência de Deus e toda sua Criação.
Não estamos SÓS, não somos ÚNICOS. Estamos todos juntos no desafio de viver a vida. Que consigamos reconhecer nossa existência como extensão de toda vida que há na Terra.
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Larissa Silva

terça-feira, 8 de junho de 2010

Valores Negociáveis

“Ninguém se vende, até que seja feita a oferta e é nessa hora que os valores vem à tona...” (Kamau)

Quais os valores e princípios que norteam a vida humana? Em quais valores seus pés estão firmados e suas raízes tem se aprofundado? Ao ouvir a música do Rapper Kamau, pude refletir sobre a importância dos valores que os indivíduos constroem no contexto social em que vivemos atualmente no Brasil. Numa sociedade imersa no consumismo, alheamento ao outro e salvação individual, em que as pessoas tendem a valorizar o “ter” e não o “ser”, pode se perceber que a grande massa da população está numa condição vendida diante do sistema instaurado na modernidade.
Vivemos diante de abismos sociais, dentro de um país rico por natureza, mas que poucos desfrutam dessa riqueza. As elites monopolizam a maior parte das riquezas materiais do país e tem um poder de formar mentalidades alienadas ao que é estabelecido como certo. Segundo Jurandir Freire Costa “...as elites desfrutam de uma tranqüilidade ideológica que não tinham antes. Livres da oposição política de esquerda, dos combates dos sindicalistas e da contestação de jovens e intelectuais, elas respiram”.
Pois bem, as elites instauradas no topo da hierarquia social ditam o que se deve pensar, falar, vestir, comer, assistir, ouvir à população brasileira. Como vampiros sanguessugas o povo vai recebendo e sugando essas informações com uma sede insaciável, e assim absorvendo as “verdades” estabelecidas para esses que parecem mais os príncipes da “democracia”. A maioria dos indivíduos tem alimentando a grande sociedade do consumo. Sociedade essa em que consumir é tão importante quanto respirar, vemos paulistanos comentarem sobre a quantidade excessiva de horas que trabalham. Mas para ser um sustentador desse consumismo, só trabalhando cada vez mais e “vivendo” cada vez menos. Assim “ter” é tão importante, que o “ser” é indiferente, então os indivíduos se tornam cada vez mais superficiais em sua essência, desenvolvendo relações vazias e descartáveis. Nessa forma de existir o alheamento em relação ao outro se torna cada vez maior e o que predomina é a salvação individual, o eu está no centro de tudo. O que eu sou, o que eu quero, o que eu tenho, o outro só tem importância quando está proporcionando gozo ao indivíduo.
Acho triste e desprezível ver onde a humanidade está chegando e que tipo de vida tem construído. Penso onde estão os valores e princípios humanos? Como encontrar solidariedade, amor, respeito, comunidade, integridade, amizade, autenticidade?
Parece difícil responder essa pergunta, mas ainda temos chance de buscar uma vida mais humana e igualitária, que pode começar com pequenos gestos e atitudes verdadeiras.
Tenho sempre a inspiração de pessoas que vejo tentar fazer a diferença e expor suas idéias no intuito de provocar a reflexão nos indivíduos e abrir possibilidades de mudança.
Mas há poucos dias me decepcionei com pessoas que no meu ponto de vista considerava desempenhar um papel fundamental em nossa sociedade, digo no sentido de ir contra ao sistema. Pois são artistas que fazem de sua música uma forma de comunicar protesto e resistência. Assim, proporcionam uma visão realista do cotidiano corrompido de valores que temos vivido no Brasil, provocando reflexões nas pessoas, abrindo possibilidades de enxergar o que está mascarado pelos políticos, governantes e elite brasileira.
A decepção está em que, esses artistas da “resistência” realizaram um trabalho em parceria com a Nike, que é uma marca elitizada mundialmente, que tem em sua fábrica trabalho escravo, exploração de trabalho infantil e que monopoliza a sociedade do consumo. Oi? Eu perdi alguma parte da história? Como assim esses caras que inspiram protestos fazendo parceria com uma marca que está no topo da sociedade do consumo, desvalorização do indivíduo e violação dos direitos humanos? Com todo respeito, fiquei engasgada com esse vídeo que assisti dessa grande parceria, ser patrocinado pela Nike? Não dá para entender.
Mas não acredito que o que esses músicos sempre cantaram sejam mentiras, penso que realmente transmitiram seus valores e idéias. Mas diante desse absurdo, penso que houve uma negociação de valores. Como diz Kamau: “Ninguém se vende, até que seja feita a oferta e é nessa hora que os valores vem à tona...”. A única coisa que me vem a mente, é que os valores dessas pessoas são negociáveis e diante da proposta, os princípios foram vendidos facilmente. É incrível como as pessoas tem dificuldade de sustentar seus ideais e preservar sua essência. Não acho que os indivíduos tenham que ser imutáveis, sou a favor da mudança que pode gerar crescimento, mas o que abomino é a transgressão dos valores humanos. Sou a favor do amadurecimento das idéias, mas totalmente contra a corrupção dos ideais.
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Larissa Silva

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Música Viva

"A música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende". (Arthur Schopenhauer)

A música é um grande presente divino a existência humana. Percebo como essa arte tem condições de invadir a alma, passear por sentimentos e emoções, transitar no mais profundo âmago do ser. Tem o dom de trazer ao presente memórias preciosas, fazer recordar cheiros e aromas, pessoas e lugares, tempos e estações, aquilo que o coração guardou, mas que a razão tenta apagar.
Seus sons, notas, harmonia, palavras proporcionam uma viagem ao infinito, despertando uma saudade do que não foi vivido, desejo do indefinido, uma vontade de ir além da emoção da canção.
Sentir a música proporciona ver beleza, se deslumbrar com a natureza, descobrir novas vivências. Mergulhar num mundo desconhecido através da pulsão musical que vibra a vida.
Com as canções choramos as desilusões com profundidade no sentir, tendo uma tristeza poética, que após superada, poderá ser revivida a qualquer momento que ouvir a música tema desse sofrimento.
Há instantes que a alma silencia, sem conseguir exprimir o que o que vivencia, mas na beleza das palavras do poeta cantor é possível encontrar espelho para o sentimento e ter nomeado o que não pode ser falado, que quando cantado brota vida no eu interior.
Descobrir paisagens, romper fronteiras, atravessar o invisível, afetar-se pelo intocável, encher os olhos d’água, sorrir com o inesperado, é assim com os sons da canção. Por os pés a dançar, as mãos balançar, o corpo movimentar, a vida a bailar com a alegria que pode nos dar.
Vida que é música, música que é vida, música que ilumina, luz que musifica, música que alegra, alegria vira música, música acolhe tristeza, tristeza que faz música, música que chora, choro que é música, música que brota amor, amor raiz da canção e nascente do cantor.
A música faz a vida mais bonita, como diz o filósofo nos dá a linguagem do coração, que é vivida na verdade da canção.
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Larissa Silva

domingo, 9 de maio de 2010

No amor, tudo pode dar certo!

“Amar também é bom: porque o amor é difícil. O amor de duas criaturas humanas talvez seja a tarefa mais difícil que nos foi imposta, a maior e última prova, a obra para a qual todas as outras são apenas uma preparação”. (Rainer Maria Rilke)

Pensar sobre o amor é não entender os próprios pensamentos. O amor muitas vezes não faz sentido, mas ainda assim ‘tudo pode dar certo’.
Amor: paixão, desejo, ansiedade, medo, expectativa, nervosismo, tédio, angústia, alegria, cumplicidade, egoísmo, tristeza, vazio, felicidade, completude, lealdade, fidelidade, amizade, companheirismo, vazio, indiferença, atenção, espera, chegada, surpresa... realidade.
O que é o amor, como encontrar o amor, existe um amor, há possibilidade de viver um amor verdadeiro?
Refletindo sobre frase de Rilke e fazendo um paralelo com a experiência que a vida me concede, posso concordar com o que o poeta diz. O amor entre duas pessoas talvez seja a vivência mais difícil de ser vivida, mas ao mesmo tempo tão desejada.
Ao prosear com um amigo, conversávamos sobre relações amorosas, então comentei que sentia isso como algo muito difícil de viver. Que tudo em minha vida conseguia ver como possível, pois a maioria dos meus desafios pessoais dependem apenas de mim para serem realizados. Digo, em minha vida profissional, acadêmica, material, espiritual, saúde, estética, cultural... tudo isso abrange outras pessoas, mas na maioria das situações depende do meu trabalho e dedicação para que as coisas aconteçam e tenham êxito. Mas quando se trata de uma relação amorosa é difícil conseguir prever o que vai acontecer e ainda que haja uma entrega intensa de minha parte não basta para que dê certo. Nesse caso, tudo está relacionado a atitude de duas pessoas diante de uma relação, assim, tudo se complica, pois duas pessoas juntas empenhadas num único propósito podem ter muitas dificuldades e limitações para fazer acontecer o amor de modo que seja satisfatório para ambos, ou seja, que proporcione felicidade para os dois envolvidos.
Estou escrevendo e parece que estou racionalizando tanto o amor, como se isso fosse possível. Mas na verdade estou tentando compreender, que por mais romântico e lindo que seja o amor, é um grande desafio vivê-lo. Na vida não existe conto de fadas e nem roteiro de cinema que esteja escrito que a história dará certo e o casal será feliz para sempre.
A vida não é exata: matemática, a vida é abstrata: poesia. E tenho compreendido como é difícil viver um amor verdadeiro. Ao olhar para minha história receio de que nunca tenha vivido uma relação onde desfrutei de um amor verdadeiro, apesar de desejá-lo desde sempre.
Como é difícil encontrar alguém que faça meu coração pulsar para a vida com intensidade e desperte no meu olhar um brilho de viver com entrega. É instigante pensar que amar tem a ver com descobrir numa outra pessoa uma razão para ser melhor para fazê-lo feliz. Uma pessoa que conquistará meu coração para amá-lo como nunca amei ninguém, que sua presença me dará força para lutar pela nossa felicidade a cada instante. Uma relação que irá além da paixão, do encantamento, que transcenderá o desejo pelo toque na pele e o chamego no ouvido. Mais que isso, desejo um outro ser que queira construir junto comigo uma história constituída de cumplicidade, transparência, companheirismo, renúncia, entrega, carinho, lealdade... o compartilhar da vida, o estar junto até que.
Não quero uma relação firmada num contrato, no qual na quebra de alguma clausula o compromisso se desfaz como bolha de sabão que estoura no ar. Quero viver uma relação firmada numa aliança, onde vivamos com autenticidade, pureza, paz, amor, que haja lealdade em cada momento de convivência, que nos suportemos em nossas imperfeições, sejamos dispostos a atravessar o óbvio, que sejamos tolerantes e amáveis no dia mau, tenhamos a disposição de recomeçar, sabendo que no amor sempre existe a possibilidade de que tudo pode dar certo. E que se por alguma desventura do destino um dia não possamos permanecer juntos, tenhamos a consciência de que deu certo enquanto foi possível e possamos guardar a amizade de uma vida compartilhada com verdade.
Não pretendo viver uma ilusão, mas sendo realista e tendo ciência das limitações e deformações humanas, das desventuras da vida, ainda assim acredito no amor verdadeiro entre duas pessoas. E creio que desejando viver como quem procura uma parte de si próprio num outro ser, tendo a certeza que em algum momento mágico de minha história poderei encontrá-lo e viver o amor em sua plenitude é que sigo caminhando, sabendo que estou cada vez mais perto desse amor que é parte do que faz minha vida ter sentido.
Percebo que a vida tem me lapidado pois tenho me permitido amadurecer com as vivências de minha história. Dessa forma, sinto que estou me preparando para viver o amor verdadeiro. Mas também sei que essa busca é um desafio para a vida, o que desejo não se encontra no comum, tem que ser garimpado para ser achado e apesar de por vezes parecer impossível encontra-lo, sinto-me impulsionada a lutar com garra para conquistar o que é a minha verdade.
Sim, o amor é muito difícil, proporciona grandes alegrias e profundas tristezas, mas nele sempre: tudo pode dar certo. Acredite sempre no que sua alma anseia viver a todo instante. O âmago do meu ser anseia por amor, reconheço essa busca e sigo em direção a esse encontro, que poderá ser o mais belo, profundo e intenso em minha história. O grande encontro com o amor!

Larissa Silva

terça-feira, 4 de maio de 2010

O viver com você!

“Estrela natureza, precisamos demais, te ter sempre por perto, na calma e santa paz. Nos morros e nos campos, no sol e no sereno, zelando por florestas, cuidando dos animais. Mulher e mãe de todos, o que será de nós, se a força do inimigo calar a tua voz, que sai dos passarinhos, dos mares e dos rios, dos vales preguiçosos, dos velhos pantanais”. (Sá e Guarabyra)
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Tenho pensando muito em você e percebo o quanto tenho sido ausente e indiferente com sua vida durante minha caminhada, escrevo para você estrela natureza. Num cotidiano tão corrido, com uma jornada onde sempre tenho uma agenda ocupada e cheia de preocupações e informações, que faz parte de minha realidade constante nessa vida metropolitana, percebo como vou me acostumando nessa cidade cinzenta de poluição, artificial pelo excesso tecnológico e materialista com seus prédios luxuosos.
Há algum tempo fui viajar para um lugar mágico, uma cidade onde parecia mais um vilarejo e lá a natureza reina. O lugar é Visconde de Mauá/RJ, foi encantador o tempo que estive lá, contato tão puro e real com o que de mais belo e verdadeiro se tem em nosso planeta. As águas correntes do rio, ouvir o barulho das correntezas da cachoeira, observar aquelas lindas montanhas, ouvir o intenso som dos fortes ventos, ver os peixes nadando vivamente, uma vivência atípica e maravilhosa. Houve um momento que me sentei na pedra e me concentrei em olhar aquela cachoeira e observar seu fluxo, tocar em suas águas e enxergar sua grandeza, era como seu eu sentisse rios fluindo no meu interior trazendo vida e me enchendo de paz. Senti-me renovada e pude me deixar envolver pela pureza da Natureza. Voltei de viagem me sentindo límpida, uma sensação incrível de ser parte de um universo tão belo.
Mas com o decorrer dos dias, essa sensação foi ficando distante e não fiz algo para trazê-la de volta, ou seja, não procurei estar perto da vida na natureza e ter equilíbrio com essa paz que ela proporciona. E ainda não me esforcei em valorizá-la e cuidar para que ela sempre cresça e permaneça.
Pois bem, recentemente estive numa palestra sobre as lições da natureza e pude novamente ser impactada pela verdade que ela possui. Enquanto o palestrante falava, por vezes meus olhos ficaram marejados e pude perceber o quanto preciso da estrela natureza, tenho necessidade de participar de sua existência e responsabilidade em cuidar de sua vivência. Ela está tão acessível e pronta a se relacionar comigo, mas o quanto tenho deixado a desejar em minha entrega para ela que detém a verdadeira vida.
Penso, o quanto nós seres humanos estamos destruindo o planeta e desvalorizando nosso maior bem, perdendo o que temos de mais rico, essencial, puro e necessário. Sem a natureza não temos nada e nem somos nada, mas como é difícil compreender e tomar esse fato como verdade. A medida de que tivermos consciência disso, seremos participantes de sua vida e estaremos em equilíbrio com ela. Assim, teremos o compromisso de investir dedicação, cuidado, relacionamento, presença, tempo, recursos, responsabilidade, amor com a natureza e poderemos desfrutar de seus presentes maravilhosos e de sua harmonia abençoada.
Quero viver com você, desejo estar com você, decido me relacionar com você e aprender a ter uma vida em equilíbrio com sua existência e harmônica com seu universo.
Assim, anseio por me alegrar com os pássaros cantando, com o Sol aquecendo o dia, a Lua iluminando a noite, a chuva regando o solo, as flores embelezando a primavera, o vento que faz crer que o invisível existe, a água que sacia, as árvores que trazem sombras para o descanso e frutos para o alimento e as rochas mostrando o quanto forte posso ser. A natureza é um grande presente nos dado por Deus e precisamos amar essa benção que temos como nossa vida, que é o que realmente ela é. Precisamos descobrir essa verdade e tomarmos posse dessa realidade.
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Larissa Silva

domingo, 18 de abril de 2010

Travessia

“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos". (Fernando Pessoa)
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Travessia, que vivência difícil e dolorosa.

Enxergar diante de si uma ponte a ser atravessada, mas perceber que percorrer não é tão simples como pode parecer.

Nos versos de Pessoa, ele diz sobre um tempo de abandonar nossas roupas usadas, deixar os velhos caminhos, ou seja, abrir mão de nossa zona de conforto para arriscar numa nova estrada que descobriremos no decorrer da vida.

Deixar um lugar seguro, conhecido, talvez previsível é uma tarefa árdua, um luto de uma fase importante em nossa vida. Deixar de habitar um lugar, uma circunstância, um grupo de pessoas, identificações que noutro tempo era tão parte de mim, para me lançar numa busca do que quero ser.

Sei que aquelas roupas que antes me eram tão confortáveis já não me servem mais, mas encontrar novas roupas que caibam em mim e me façam sentir que sou eu de novo com verdade, é um grande desafio.

Sinto-me desabitada, não sei nomear o que está em mim. Brota em mim um anseio profundo por uma terra segura, por confiança em algo ou alguém.

Isso que está dentro de mim, que é tão real, mas questionável, um nó na garganta que faz e se desfaz, numa tentativa de reconstrução de minha identidade, de uma nova definição do meu lugar no mundo.

Inquietação que passeia pelo meu corpo, coração, mente, pensamentos, emoções, forte e profunda que quer encontrar um descanso.

Me encontrar em meio a travessia, saber que consegui sair do que já é passado, e saber que o que encaixava, que servia para minha vida anteriormente já não serve mais. Não adianta olhar para atrás e tentar voltar, já foi, está feito a despedida e vou vivendo o luto.

Enxergo que estou no meio da travessia, mas ainda não consegui avistar o que tem do outro lado da ponte, quem serei e que lugar habitarei quando chegar lá. Querer segurar numa mão e sentir paz, mas é tão difícil alguém que consiga compartilhar o meu real.

Sei que estou me descobrindo, para que eu não fique a margem de mim mesma, mas que consiga ser autêntica na vida que Deus me concedeu como presente. E como ser presente em mim. Como me habitar? Quero verdade, esperança e fé para encontrar uma vida com amor.

Como é difícil reconhecer a falta, a ausência, a solidão em minha existência. Uma solidão que não é só da ausência do outro, mas de si mesmo, de não se encontrar e assim uma sensação de não pertencimento. Quando não pertenço a mim, não poderei pertencer a um outro ser. Preciso me enxergar, reencontrar meu espelho, meu mundo, amadurecer e ter condições de me construir e assim conseguir colocar meus pés do outro lado da ponte me reconhecendo como parte desse novo habitar.

Olhos marejados, medo do novo, angústia no caminhar, dificuldade de acreditar, mas permaneço trilhando a historia de minha vida, tendo a expectativa que essa é uma rica fase dessa travessia e que em breve a vida brilhará em meus olhos e o amor reinará em meu coração.

O melhor dessa vivência é transformar meus sentimentos em palavras, essa tentativa de traduzir na escrita a experiência vivida.

Claro, sempre será apenas uma tentativa, o âmago do meu ser pede muito mais do que escrever. Mas é o que tem para hoje. É isso.


Larissa Silva

segunda-feira, 12 de abril de 2010

O verão há de vir

“Ser artista não significa calcular e contar, mas sim amadurecer como a árvore que não apressa a sua seiva e enfrenta tranqüila as tempestades da primavera, sem medo de que depois dela não venha nenhum verão. O verão há de vir. Mas virá só para os pacientes, que aguardam num grande silêncio intrépido, como se diante deles estivesse a eternidade. Aprendo-o diariamente, no meio de dores a que sou agradecido: a paciência é tudo”. (Rainer Maria Rilke)

Ao refletir sobre as palavras de Rilke, me deparo com a vida e penso como esse verso está ligado ao processo de viver, que entendo como uma grande arte.
No desenvolver de minha história vejo como sou tentada a querer controlar a vida, as circunstâncias, ações, como se a vida fosse matemática que se pode contar, ou um jogo de lógica que se pode calcular e ter a exatidão de um resultado preciso.
Não, não é assim que funciona o mundo real. Quando decidimos desvendar o véu da ilusão e tentar enxergar as coisas como de fato são, podemos perceber quanto é difícil entender.
Por vezes, tentamos desenhar um plano de vida de forma tão exata, como se a vida se resumisse a um projeto tecnológico. Onde o desenvolvedor tem controle sobre cada etapa do que sucederá dependendo de suas ações.
A vida é mais que isso, é como um mar de profundezas, um céu de descobertas.
Deixar de controlar para confiar é difícil, mas um desafio muito enriquecedor. Pensar na importância de não tentar entender tudo, mas sim reconhecer suas dificuldades e potencialidades. Enxergar o que se é, o que se quer, valorizar seus princípios, e aí então fazer suas escolhas pode ser uma grande sacada, ou seja, ser autêntico na arte de viver.
Diante da possibilidade de ter autenticidade no viver como essência, sendo parte de sua verdade, pode nos ajudar abrir mão do controle exacerbado do presente e do futuro, assim contribuir a ter confiança que o verão que há de vir. Confiar que existe belas flores e frutos doces que podem ser colhidos no porvir.
É tão lindo quando vivemos com verdade e deixamos a vida acontecer com naturalidade, enfrentando os desafios, lidando com as dificuldades, aprendendo com as frustrações, chorando com a dor, afetando-se com as alegrias e agradecendo pela presença do amor.
Reconheço que não é fácil, a vida é cheia de surpresas e não saber o que irá nos suceder é angustiante. Mas precisamos nos descobrir todos os dias, enxergar em nosso interior quem somos e buscar nisso uma força para acreditar e confiar no que diz o poeta que “o amanhã será como Deus quiser”.
É preciso desfrutar a vida com verdade e acreditar que o melhor virá, como diz Rilke “se tivermos paciência o verão há de vir”.
Proseando com um amigo, ele comentou que não é fácil acordar a cada dia e acreditar que é possível. Concordo com ele, é um desafio, mas crer, ter fé que podemos é um dom que pode ser aperfeiçoado a cada momento que topamos viver e nos traz maturidade para crescermos e nos fortalecermos.
Essa maturidade nos prepara para receber as dádivas de Deus e aproveitar carinhosamente a boas surpresas que a vida nos proporciona.
É tão bom quando vemos que não nosso controle, mas sim nossas atitudes sinceras e verdadeiras resultam em vivências felizes. Que ter paciência no inverno da vida pode resultar em alegria no verão de nossa história.
Quando houver silêncio em mim, que não seja de desistência, mas de paciência. Porque o que é eterno existe para quem é paciente.
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Larissa Silva

quinta-feira, 1 de abril de 2010

CORAGEM, Um Sonho Possível!

Enfrentar a vida com coragem. Penso a coragem como um dom, uma capacidade para viver a vida com verdade e autenticidade.
Assistindo o filme “Um sonho possível” tive minhas emoções afetadas e repensei sobre a presença da coragem em minha vida. A história do filme baseada em fatos reais, conta sobre uma mulher que adota um garoto e a partir disso a história da vida de ambos é transformada. A atitude dela foi de uma coragem com sua vida, com sua família e com aquele garoto.
o momento que ela percebe a necessidade dele, ao se deparar com o fato de que ele não tinha um lar e uma família, ela decidiu ser alguém por ele. Ela assumiu sua verdade, em querer se dar por aquela vida, mostrou seu desejo ao marido e aos filhos, correndo o risco de uma discordância familiar. Mas a coragem que teve para enfrentar esse desafio despertou o desejo de sua família em assumir aquela decisão como uma verdade deles e pagar o preço por isso. Admiro como ela expôs seu coração a um outro ser e se deixou ser afetada de forma tão profunda e significativa. Ela demonstra isso com sua fala: “- Você está mudando a vida deste garoto. Não. Ele que está mudando a minha." (Um sonho possível - 2009)

Esse contexto me impactou de forma peculiar. Acredito que essa “coragem” da personagem despertou sentimentos profundos em minha alma. Me identifiquei, me enxerguei.
Percebo que o cotidiano de vida no século XXI ao qual estou inserida, ou seja, a vida metropolitana em São Paulo, induz as pessoas a serem superficiais em suas vidas e com os outros. Diante de tantas exigências emocionais, profissionais, tecnológicas, conhecimentos, relações, é difícil ser autêntico, verdadeiro e ter a coragem de se comprometer em SER o que realmente se é ao escrever sua história de vida.
Uma série de representações, jogos, personas constituem a vivência humana, um emaranhado de atuações em circunstâncias diversas. Ao pensar quando de fato o indivíduo consegue expor o que se é, enxergar o que se é, aceitar o que se é, ser o EU que realmente se é, muitas vezes parece distante essa atitude de verdade consigo.
O âmago do ser humano busca por verdade, amor, completude, mas nossas defesas humanas parecem não perceber a real necessidade do seu SER. E assim age como estivesse satisfeito com o que é raso, fácil, comum, descartável e aparente. Aceitam assim viver numa conspiração de fingimento, com uma satisfação ilusória com o que lhe é externo sem valorizar a importância do que lhe é interno, a essência da alma humana.
Assim, vejo que a personagem do filme “Um Sonho Possível” interpretada por Sandra Bullock teve a coragem de aceitar o desejo profundo em sua alma de se solidarizar com aquele garoto, trazê-lo para sua vida e permitir que ele mudasse a história de sua vida e família. Deixando com que a afetividade, amor, cumplicidade despertassem com coragem em seu SER. Diante das críticas da sociedade que vivia, da exposição de seus filhos àquela situação, ela assumiu as rédeas de sua vida e foi quem realmente ela era. E assim encontrou o sentido e o real significado de sua existência. Como disse lindamente o personagem que fazia seu marido: sei que ajudar as pessoas traz a você uma satisfação incrível.
Que essa reflexão traga a minha existência a CORAGEM de SER o EU que realmente eu sou. Me coloque para fora, me desperte para o que o âmago do meu ser pede a mim. Que realmente eu VIVA a vida, desfrute com entrega e verdade das relações com o outro e dos desafios que diante de mim se apresenta. Podendo perceber a beleza da natureza, a importância do outro, o conforto da família, o presente da amizade, a dignidade do trabalho, a grandeza da solidariedade, a emoção da música, a resposta da arte, a riqueza do conhecimento, a vida no amor e a verdade em Deus.
Que eu tenha o prazer de enfrentar a vida com coragem sempre, que a Coragem seja para mim Um Sonho Possível!
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(Larissa Silva)

terça-feira, 9 de março de 2010

Sonhei

Sonhei, e de tão forte e real que foi o sonho que acreditei nele por muitos dias, semanas, meses. Ao acordar tive dúvida se era sonho ou pesadelo. Sabe sempre tive sonhos ou pesadelos, mas nunca sonho com pesadelo. É assim mesmo, um dia o que não existia passa a existir. E pela primeira vez meu sonho se tornou pesadelo. Durante tempos foi sonho e num certo dia percebi a ilusão que nele existia e o vi como pesadelo. O doce ficou amargo. O quente ficou frio. O dia se verteu em noite. O Sol transformou-se em neve. E a vida doeu no peito. Realidade despertou em desamor. Assim, foi um sonho que se estendeu, iludiu, creu, desejou, desfrutou, amou e acabou. Parece uma bolha de sabão que estourou e evaporou. Foi assim. Acordei e ainda bem que era só um pesadelo. Agora posso sonhar novamente, outros sonhos, torcendo para que não se torne pesadelo, que o príncipe não se torne sapo, mas sim que o patinho feio se torne um belo cisne.

Larissa Silva

quarta-feira, 3 de março de 2010

Você que não existe, mas persiste!


Estou só. Agora estou só para estar com você. Pois hoje você está dentro de mim. Noutro tempo você estava dentro de mim e comigo, estava presente por dentro e por fora. Mas agora que foi embora, só ficou sua presença intrínseca em minha vida. Te amei, me entreguei, te desejei, me dei. Mas mostrou-me que teu amor era uma ilusão, que o homem por quem me apaixonei era apenas uma idealização. Você não existia como me dizia, mas cegou-me com tua falsa paixão. Agora fico aqui com a saudade do que não existiu e com a tristeza de um amor que iludiu. Me envergonho de ainda te querer. Não posso mostrar meu desejo de você aos que estão comigo. Para estar com sua presença que habita em mim, preciso ficar só, assim sinto você aqui sem medo de me abrir para te ver, pois só eu me vejo nua de mim.Não me permito mais te amar, como se no meu coração pudesse mandar. Escrevo para me despir e assim tentar me despedir.
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Larissa Silva

segunda-feira, 1 de março de 2010

Como Borboleta!

“Você me lembra uma borboleta. Uma borboleta é uma coisa esquisita. É uma coisa que você pode se aproximar bastante, por assim dizer como um amigo novo, mas justamente quando consegue estar junto dela e fazer-lhe festas ou aproxima-la de você e olha-la, ela voa para longe. É nesse sentido que você me lembra uma borboleta, algo que deveria ser belo e visto de perto, mas de que não podemos aproximar o necessário”.

Extraído do livro Grupos de Encontro de Carl Rogers.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Sobre sambas, alegrias e despedidas

...Hoje, tempos e amores depois, resolvi colocar o mesmo disco pra tocar aqui na mesma sala, num dia de tristeza inédita. Ou de uma velha melancolia, exibindo as feridas que ainda habitam em mim.

É incrível como fui capaz de esquecer desse antídoto, como se eu estivesse apegada às dores que me assaltaram de algumas semanas pra cá – e a dor tem os seus encantos. E de novo descubro que em mim existem sorrisos de verdade, e com as notas procuro fazer a esperança espantar o medo, esse que desenha um futuro escuro como numa tentativa de nos proteger de alguma decepção – mas o faz de um jeito burro, porque é muito melhor ter esperança que deixar de viver a felicidade por medo de ela acabar.

O samba ensina entusiasmo, filho. Mesmo que fale de acontecimentos tristes, desamor ou abandono, ele canta a alegria que virá, inevitavelmente, porque a vida é mesmo em ciclos. Quem canta um samba lembra que a vida é agora, e se despede da tristeza com graça, antecipadamente, como quem coloca vassoura atrás da porta, confiante de que assim a visita indesejada vai logo dar um jeito de ir embora.

Cantar e sambar é um jeito brasileiro de acreditar no futuro, em notas que choram docemente, lembrando que satisfação é estar vivo e que isso deve fazer algum sentido.

E é assim que hoje, ouvindo samba, decidi começar a caminhar de novo, mesmo com os pés doendo: com a certeza de que em pouco tempo vou encontrar um lugar pra me sentar, tirar os sapatos e apreciar a estrada. Para depois dar mais alguns passos descalça e, com novos calos a proteger os pés, descobrir caminhos que nem estavam no mapa, e voltar ao prazer da viagem.

Lá na frente, quem sabe eu mesma faça um sambinha, cantando em humor as vezes que errei o caminho – e de como foi bom aprender.

(Cristina Guerra)

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Muito


O que ela quer é falar de amor. Fazer cafuné, comprar presente, reservar hotel pra viagem, olhar estrela sem ter o que dizer. Quer tomar vinho e olhar nos olhos. Ela quer poder soprar o que mora dentro, o que não cabe, que voa inocente e suicida. Ela quer o que não tem nome. Quer rir sem saber de quê, passar horas sem notar, quer o silêncio e a falação. Ela quer bobagem. Quer o que não serve pra nada. Quer o desejo, que é menos comportado que a vontade. Ela quer o imprevisto, a surpresa, o coração disparado, o medo de ser bom. Quer música, barulho de e-mail na caixa, telefone tocando. Ela tem muito e quer mais. Quer sempre. Quer se cobrir de eternidade, quer o oxigênio do risco pra ficar sempre menina. Ela quer tremer as pernas, beijo no ponto de ônibus e a milésima primeira vez. Quer cor e som, lembrança de ontem, sorriso no canto da boca. Ela quer dar bandeira. Quer a alegria besta de quem não tem juízo. O que ela quer é tão simples. Só que ela não é desse mundo.
(Cristina Guerra)

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A Alma

A alma é uma coleção de belos quadros adornecidos, os seus rostos envolvidos pela sombra. Sua beleza é triste e nostálgica porque, sendo moradores da alma, sonhos, eles não existem do lado de fora. Vez por outra, entretanto, defrontamo-nos com um rosto (ou será apenas uma voz, ou uma maneira de olhar, ou um jeito da mão...) que, sem razões, faz a bela cena acordar. E somos possuídos pela certeza de que este rosto que os olhos contemplam é o mesmo que, no quadro, está escondido pela sombra. O corpo estremece. Está apaixonado.
Acontece, entretanto, que não existe coisa alguma que seja do tamanho do nosso amor. A nossa fome de beleza é grande demais.(...)Cedo ou tarde descobrirá que o rosto não é aquele. E a bela cena retornará à sua condição de sonho impossível da alma. E só restará a ela alimentar-se da nostalgia que rosto algum poderá satisfazer...

Rubem Alves