terça-feira, 31 de agosto de 2010

Encantar Almas

“Um fogo queimou dentro de mim, que não tem mais jeito de se apagar, nem mesmo com toda água do mar. Preciso aprender os mistérios do fogo prá te incendiar” (Maurício Maestro)

É como sinto no meu interior, um fogo que arde e não tem mais jeito de se apagar, preciso aprender os mistérios de minha vida para poder incendiar.Inquieta, percebo um ardor na alma que anseia a vida, aspira expressões de beleza, que se pode encontrar nos pequenos detalhes de nosso cotidiano.
Tenho encontrado encanto nas relações humanas, essa capacidade de se sentir parte de um universo comum através da identificação com as pessoas. Encontro no outro identificação, me reconheço nas diferenças e me identifico na aceitação e compartilhamento com aquele que é distante de minha realidade, mas ao mesmo tempo é parte de minha humanidade. Somos parecidos por sermos diferentes, nos reconhecemos em nossas complexidades. A vida acontece nessa interação da vida e troca de experiências singulares a cada um. Discursos que se cruzam, beleza que emana das palavras, olhares que se entendem mesmo sem se conhecer, canções que surgem para marcar na memória esses momentos únicos, belos e verdadeiros.
Nessa capacidade de me relacionar com o outro, construo minha história e amadureço minha identidade. Sinto desejo de ser parte, estar junto, construir vivências com esses outros seres que fazem parte de mim. É como um fogo que se acendeu e não tem como apagar, mas que precisa encontrar outros iguais para incendiar. Sim, incendiar de amor, propor amizade, alegria, vida, conversa, riso, canção, discussão, silêncio, encontro com o humano que preciso para experimentar a vida com inteireza. Quando falo de encontrar iguais, não tenho a pretensão de me relacionar com pessoas que sejam cópias de quem sou, até porque isso é totalmente ilusório, mas sim, estou expressando o desejo de enxergar o outro como igual a mim independente de quem ele seja, mas de nos reconhecermos comuns pelo fato de sermos seres humanos e assim pertencentes ao mesmo povo, a despeito da cultura, raça ou tribo.
Ao partilhar da vida e entregar um pouco do que sou e do que tenho, sinto-me alimentada e impulsionada a buscar mais experiências nas relações humanas. Desfrutar de encontros nos conduz a um universo mágico de descobertas, aprendizados, afetividade, que são como bálsamo no profundo da alma.
Quero aprender o encanto dos momentos simples, inusitados e inesperados, a legitimar as pessoas quando são presentes. Que não precise descobrir o valor do outro na dor da saudade, mas que tenha disposição de amar enquanto é possível, enquanto a relação é real. Quero me desfazer do desejo ilusório de relações perfeitas e encontrar graça no que é autêntico e próprio ao ser humano.
Um amigo comentou, lembro-me de quando conversávamos sobre o futuro, como o tempo passa e o futuro chegou. Aquele futuro chegou, mas enquanto estamos vivos temos sempre a oportunidade de escrevermos um novo futuro. Não vamos nos perder de nossas verdades, de nossos amores, de nossos amigos e nossos valores. Sejamos entregue a nossa essência e possamos fazer desse presente feliz, semearmos a vida em verdade em comunhão com quem nos é importante e assim plantarmos o futuro regado de presenças afetivas e alianças verdadeiras. Que eu possa despertar no outro o seu melhor, suportar o seu pior, e nessa entrega me inspirar para também melhorar.
Quero um dia compreender e viver a riqueza dessas palavras de Madre Tereza de Calcutá: "Não devemos permitir que alguém saia de nossa presença sem sentir-se melhor e mais feliz". Me lanço no desafio de viver a vida em busca de enxergar nas pessoas fraternidade, que possamos nos perceber como irmãos e filhos do grande Pai- Deus.
Quero ser uma encantadora de almas e ser afetada pelo encanto das pessoas.
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Larissa Silva

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Angústia, aprendizado para vida

“Aprender a angustiar-se é uma aventura que todos tem de experimentar” (Kierkegaard)

Percebo uma sensação que por diversos momentos paira no interior da vida de todo ser humano, a angústia. Esse nó na garganta, essa apreensão sem saber o porquê e como, que derepente invade o íntimo do nosso ser sem se fazer entender. Numa experiência angustiada, tomei um artigo de filosofia para ler e me deparei com as palavras de Kierkegaard “Aprender a angustiar-se é uma aventura que todos têm de experimentar”. Que surpresa ler sobre um sentimento atual. Reflito sobre esse aprendizado, e compreendo que na existência essa vivência tem significados profundos.
Ao nos enxergamos, identificando quem somos, o que sentimos e o que possuímos, abrimos uma porta para a angústia em nossa vida. Por vezes ela é fruto da autoconsciência e da liberdade humana. Isso aponta para os questionamentos “Quem eu sou?” e “Para onde eu vou?”.
Pare e pense em como responder tais questões, se sabe exatamente quem é e onde quer chegar, nessa responsabilidade de assumir sua identidade e sustentar suas escolhas. No vazio que advém dessa independência de viver a própria individualidade.
Nesse contexto percebo o quanto nossa independência precisa ter limites. É importante pensar que nossa individualidade é limitada, sim, pela necessidade que temos de reconhecer que somos parte de um universo muito mais amplo e profundo.
Penso que a vida humana é constituída através de vários órgãos de um só corpo, ou seja, cada um de nós é apenas uma parte desse grande corpo que é o universo. Se olharmos ao nosso redor e prestarmos atenção em tudo que nos cerca, podemos nos perguntar se realmente temos condições de sermos independentes em nossa trajetória de vida.
Ao olhar para nosso interior é possível perceber o quanto somos carentes e necessitados do que é externo a nós, do que parece que não nos pertence, mas que ao mesmo tempo tem tanto do que somos.
Segundo Dostoievski, “Todo homem tem dentro de si um vazio do tamanho de Deus”. Essas palavras trazem um impacto profundo dentro de mim e fazem parte de minha cosmovisão.
Sim, creio que temos um vazio interior capaz de provocar essa angustia humana, que está totalmente ligado a nossa necessidade existencial de nos relacionar. E uma relação primordial que se faz necessário é a relação com um Ser Superior e Divino, é a grande necessidade que temos de Deus em nossa vida, pois só Ele para suprir esse vazio que está em nós. O âmago do nosso ser deseja essa relação com Deus.
Quando temos a compreensão dessa necessidade, podemos perceber que uma relação verdadeira com Deus está ligada também, a uma relação de amor com tudo aquilo que é criação dEle. Sendo assim, podemos entender a necessidade de nos relacionar com os outros seres humanos e com a natureza (vegetais, animais, água, terra). Amar a Deus está intimamente ligado a amar a tudo que vêem dEle.
"Todas as coisas são interligadas como o sangue que une uma família. O queacontecer a Terra, acontecerá com seus filhos. O homem não pode tecer a trama da vida; ele é meramente um dos fios. Seja o que for que ele faça à trama, estará fazendo consigo mesmo". (Chefe Indígena Seattle/EUA)
Sabiamente falou esse índio, somos parte de tudo que há na Terra, nossas vidas estão totalmente conectadas e dependentes umas das outras. Se desprezar qualquer ser que vive, estarei desprezando uma parte de mim que existe fora de mim. É urgente reconhecermos essa realidade para darmos um sentido a nossa trajetória de vida apoiada na verdade.
Precisamos entender as palavras de Jesus: “Para que sejam um, como nós o somos, Eu neles, e Tu em mim, afim de que sejam aperfeiçoados em unidade” (Jo 17:22-23)
Jesus sabia que era um com Deus, e que nós poderíamos fazer parte dessa unidade, uns com os outros e assim com Ele. Que através da unidade seremos aperfeiçoados.
Sendo assim, espero que nossa angústia gere a humildade de reconhecer nossa pequenez, carência e dependência de Deus e toda sua Criação.
Não estamos SÓS, não somos ÚNICOS. Estamos todos juntos no desafio de viver a vida. Que consigamos reconhecer nossa existência como extensão de toda vida que há na Terra.
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Larissa Silva