quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Propósito

Nascer é a primeira chance. Não desperdiçar essa chance, o primeiro dever. (André Comte-Sponville)

Quando era criança, lembro que era maravilhoso acordar no sábado pela manhã, meus pais ouvindo música bem alta, provavelmente Legião Urbana, Milton Nascimento, Raul Seixas, Beatles... enfim sempre era do meu gosto a trilha sonora escolhida por eles. Acordava feliz e via aquele Sol lindo raiando na janela do quarto e sabia que teria todo o dia pela frente para aproveitar, brincar e estar com os amigos. E podíamos fazer tantas coisas juntos, andar de bicicleta, jogar vôlei, andar de patins ou simplesmente conversar e sentir a brisa do vento tocar o rosto, isso era tão bom e nessa época o dia parecia ser tão mais longo. Esses momentos realmente traziam significado a minha infância, não era necessário entender ou escolher, mas sim deixar fluir, acontecer...

E hoje o que é não desperdiçar essa chance de viver? O que poderá atribuir sentido a essa vida tão cheia de surpresas que é nossa humanidade? É deixar fluir, acontecer ou precisamos encontrar um propósito maior para trazer significado ao nosso nascer, existir?

Tenho medo das certezas e convicções que as pessoas demonstram ter, tantos absurdos, barbáries, desafetos e sofrimentos já foram resultado de uma extrema confiança numa idéia ou pensamento.
Mas ao mesmo tempo sinto dentro de mim uma busca pelo meu propósito de viver. Será que ele existe? E acho difícil descobrir algo que é tão meu, tão pessoal. Uma pergunta que só pode ser respondida por mim.

“Quando nossa vida subitamente se abre a indagação, somos lançados de volta a nós mesmos sem apoio de nenhuma intervenção externa”. (Ulrich Baer)

É isso, uma indagação interna, que não pode se apoiar no externo. Um momento que não posso simplesmente ouvir a mesma música que meus pais ouvem, mas preciso descobrir qual a trilha sonora da minha vida. Qual a grande poesia que a vida preparou para mim ou que vou preparar para a vida?
Penso que a pessoa que encontra a sua resposta, descobre sua vocação, o motivo para viver, encontra a plenitude na vida. Não necessariamente que isso reflita a alegria contínua, mas além de desfrutar da felicidade, também terá condições de suportar e lidar com os momentos de infelicidade. Como diz Nietzsche: “Quem tem um porque para viver pode suportar qualquer como”.

Reflexões para a vida.

(Larissa Silva)