domingo, 27 de março de 2011

Encontros e Desencontros


Era uma noite agradável. Nina caminhava pela rua em direção a sua casa. A brisa tocava-lhe o rosto, o cabelo voava ao vento e a lua estava linda. Ela queria mais da vida, então resolveu ir a um show de música popular brasileira que teria naquela noite. Como decidiu em cima da hora, não deu tempo para convidar alguém para ir junto. Ela foi sozinha, na expectativa que a vida lhe prepararia coisas boas. Chegou ao espaço cultural e puxou conversa com um rapaz, ele era um homem mais maduro, tinha mais idade que ela, uma garota jovem. Nina tinha ganhado um par de ingressos para aquele show e só usaria um. Ela ofereceu para ele, que chegou à bilheteria para comprar o seu ingresso.

Nina: - Você vai comprar ingressos para o show de hoje?

Marco: - Irei comprar sim. Por quê?

Nina: - Ganhei um par de ingressos e só vou utilizar um, pois estou sozinha. Você está sozinho?

Marco: - Sim, estou.

Nina: - Pronto, eu te dou um dos meus ingressos e você não precisa comprar.

Marco: - Eu compro de você então.

Nina: - De jeito nenhum, ganhei e te dou também, está aqui, pronto. Vamos indo para o teatro?

Marco: - Vamos sim. Está cedo ainda, podemos passar para tomar algo?

Nina: - Sim, claro.

Ele comprou bebida para os dois e se sentaram para beber e prosear um pouco. Ele perguntou o nome dela e ela falou, ele disse que era muito bonito como ela.

Marco: - Você trabalha com música?

Nina: - Eu sou apaixonada por música, mas não trabalho com música, por quê?

Marco: - Ah, quando você começou conversar comigo, tinha certeza que você trabalhava com música. Você parece ter tudo a ver com arte, cultura, música...

Nina: - Puxa, eu adoro tudo isso e curto bastante, mas nunca trabalhei, não. Que legal você pensar isso de mim.

Marco: - Nina, acho que tem tudo a ver com você. Durante muito tempo de minha vida me dediquei ao teatro. E vejo isso em você, um brilho de vida para a arte. Você deveria fazer teatro ou algo relacionado, acho que tem tudo a ver. Você tem essa alegria que a arte nos proporciona.

Ela se sentiu feliz, surpresa e instigada a querer saber mais daquele desconhecido que parecia conhecê-la tão bem. Ele lhe deu palavras e gestos. Era perceptível o brilho no olhar de Nina e sua alegria em ver a forma que Marco falava dela. As palavras dele afetavam-na de forma especial.

Nina: - É mesmo, já me falaram coisas do tipo. Mas você está sendo assertivo, vou pensar a respeito.

E assim continuaram conversando, ela sentiu como se ele enxergasse seu interior, compreendesse seus desejos e se encantasse com sua presença. Houve um fluir na conversa, falaram sobre Chico Buarque, Milton Nascimento, Poesia, Teatro, Vida... Enfim tinham assunto em comum como se já se conhecessem há tempos e estivessem esperando essa oportunidade para colocar as palavras em dia. O show já iria começar...

Marco: - Nina, vamos ao show?

Nina: - Claro, vamos sim. Estou com bastante expectativa.

Adentraram ao teatro, ela se acomodou, ele, cavalheiro, esperou-a sentar e se acomodou em seguida. O show começou, músicas lindas e uma atmosfera poética pairavam no ar. Eles vivenciavam juntos a beleza do espetáculo, se emocionando e curtindo aquelas músicas. Entre uma e outra, comentavam algo a respeito das músicas, dos artistas. Foi um momento muito agradável, ela se sentia bem acompanhada e feliz. Foi uma daquelas situações da vida na qual Nina se sentiu preenchida, completa, satisfeita com o que lhe ocorria. Ele encostava seu braço no dela e ela ficava sem saber como agir. Ela sentia vontade de encurtar a distância, mas ao mesmo tempo não sabia o que fazer.

Naquele momento era como se o mundo parasse, ela sentia que era especial o homem que estava ao seu lado e ainda tinha uma maravilhosa trilha sonora preenchendo o lugar. Era um cenário que permeava romance, ela sentia como se estivesse vivenciando a cena de um belo filme. Não havia um lugar melhor para ela. Era exatamente ali que Nina queria estar, sentia-se no momento certo, com a pessoa certa, ouvindo belas músicas que pareciam vir iluminar o coração dos dois desconhecidos que se conheciam.

Ao final do espetáculo, saíram juntos e já fora do teatro, era o momento da despedida. Estavam juntos, mas ao mesmo tempo nem se conheciam. Era uma situação que os deixavam constrangidos e sem saber qual o próximo passo. Eles se olharam e se despediram.

Marco: - Nina, foi um prazer te conhecer, obrigado pela ótima companhia.

Nina: - O prazer foi meu, eu que agradeço.

Marco: - Até mais...

Nina: - Até...

Marco e Nina se despediram com um beijo no rosto e cada um seguiu seu rumo. Um encontro e um desencontro na mesma noite. Mas foi um tempo juntos suficiente para dar um novo sentido para a noite de Nina e aquecer seu coração de afeto pela companhia de Marco. E num teatro em São Paulo, o amor venceu o tédio. Um pequeno momento carregado de grande carinho. A presença de Marco despertou brilho no olhar de Nina e naquela noite ela voltou mais feliz para sua casa, surpreendida com a beleza da vida e a alegria dos encontros.

Nina nunca mais o encontrou, mas desde aquele dia ela tem desejado trabalhar com cultura e pesquisado para estudar teatro. Naquela noite, parece que Marco revelou a Nina uma parte de si mesma que ela ainda não conhecia, proporcionou que entrasse em contato com coisas belas que estavam guardadas em seu coração prontas a serem descobertas.

Amor que se revela em situações inusitadas, mas especiais. Basta-nos a sensibilidade para percebê-lo no ar e experimentar de sua poesia.

Larissa Silva

sábado, 12 de março de 2011

Chorar com os que Choram

A tragédia no Japão, tsunami, terremoto, explosão nuclear, desastre ecológico... tristeza. Cidades sendo destruídas, pessoas morrendo, medo, desespero, tomando conta de um país. Qual o tamanho do sofrimento dessas pessoas? Não posso mensurar nem de longe, só posso é fazer o que a bíblia diz: “chorar com os que choram” (Rm 12:15). O que é possível é despertar a compaixão com coragem, se compadecer e indignar com o sofrimento desse povo. Agora, me dói no mais profundo do coração ver os religiosos dizendo que é a mão de Deus pesando, que Deus está movendo as águas. Pelo amor de Deus, que Deus é esse que esses religiosos conhecem???

Jesus veio ao mundo para nos revelar um Deus de amor, um Espírito que intercede pelo homem com gemidos inexprimíveis. Jesus se manifestou como um homem humano, vulnerável, por amar, Ele chorou pelo sofrimento alheio:

“Tendo, pois, Maria chegado onde Jesus estava, e vendo-o, lançou-se aos seus pés, dizendo-lhe: Senhor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. Jesus pois, quando a viu chorar, e também chorando os judeus que com ela vinham, moveu-se muito em espírito, e perturbou-se. E disse: Onde o pusestes? Disseram-lhe: Senhor, vem, e vê. Jesus chorou. Disseram, pois, os judeus: Vede como o amava”. (Jo 11:32-36)

Nossa, os religiosos nunca leram que JESUS CHOROU?

O sofrimento faz parte da humanidade, todos nós estamos sujeitos a dificuldades, aflições, desastres, Deus se move de compaixão por nós que somos seus filhos e amados por Ele. Deus não move as águas para destruir ninguém, Deus chora com os que choram. Jesus é a demonstração viva do amor perfeito de Deus pelo ser humano.

Essas pessoas que só conhecem um deus tirano, estão perdendo a oportunidade de experimentar da graça de Deus e estão testemunhando o quanto a religião pode ser corruptível e desumanizadora.

Meu coração se aflige, angústia toma o peito, ao ver pessoas comentarem a tragédia do Japão com ar de superioridade, como se aquele povo merecesse a ira de Deus. Nossa, se Deus quisesse nesse momento manifestar a justiça dele no mundo, TODA a humanidade estaria fadada ao desastre, pois todos nós somos pecadores cheios de falhas e imperfeições. Glória a Deus por Sua Graça e Amor que independem do nosso merecimento.

Quem se compadece age em prol do sofrimento alheio, se move em favor dos que perecem, sofre e luta junto. Orar e fazer silêncio??? As pessoas precisam de amor, dedicação, acolhimento, compaixão, recurso material, financeiro, casa, comida, remédio... enfim AJUDA REAL e PRÁTICA. Nesse momento sermão não serve para nada, só o espelho que precisa dos sermões hipócritas desses religiosos.

Só de pensar, que poderia ser meus pais, irmãos, família, amigos, pessoas queridas nesse contexto, um nó vem à garganta, sinceramente, não sei como sobreviveria se passasse por uma experiência tão dolorosa como essas. E sei que posso vivenciar tal tristeza a qualquer momento de minha vida. Todos nós humanos enquanto vivos estamos vulneráveis a tudo no mundo. Cuidado, com o que falamos e pensamos do outro, do nosso próximo. Jesus diz: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. (Lc 10: 27)

Que nós possamos ao menos tentar nos aproximar das palavras de Jesus. Que Deus esteja mais em nossas ações do que em nossas palavras. Que possamos nos sensibilizar e nos doar pelos que perecem. No Japão, no Rio de Janeiro, São Paulo, Alagoas, Haiti, seja onde houver o sofrimento humano, que haja o amor humano.

Não me conte sobre o tipo de religião em que acredita, me conte sobre o tipo de pessoa que você é. Sobre o que te faz chorar e o que te faz sorrir, isso sim me interessa!

Larissa Silva